Supere o bloqueio criativo: aprenda a Planejar seus Desenhos
- Ingrid Fornazari
- há 2 dias
- 10 min de leitura
Introdução
Hoje temos um tema diferente vamos abordar um tipo de bloqueio criativo: o medo da folha em branco. Também vamos abordar como superar esse bloqueio criativo utilizando uma ferramenta bem simples o planejamento do desenho.
Com certeza você já ouviu falar em planejamento, mas o que talvez você nunca tenha ouvido falar em planejamento do desenho. Mostrarei o passo a passo que uso, de forma que você possa aplicar em seu processo criativo também.
Vou usar o desenho como exemplo, pois é o que eu faço, mas fique à vontade para adaptar isso para outras áreas, como um projeto de artesanato, a escrita de um livro ou um projeto de design. Sinta-se livre para modificar e utilizar da maneira que for mais confortável para você.
Aliás se você quer saber mais sobre desenho e processo criativo e não conhece o informativo aqui do site, não sabe o que está perdendo. Nesse informativo, trato de temas sobre desenho, que não estão aqui no Youtube ou no blog. Também tem vídeos exclusivos e materiais grátis, além de atualizações sobre o que acontece nos bastidores e novidades em primeira mão.
Antes de entrarmos no planejamento propriamente dito tem um assunto que precisamos esclarecer antes. É um desafio que assombra todo artista: o medo da folha em branco. Aquela sensação paralisante de olhar para o papel ou tela e travar.

O que é o Medo da Folha em Branco?
É aquela sensação de olhar para a folha de desenho e não saber o que fazer, não saber por onde começar. Quanto mais você olha, mais sua mente trava e menos ideias surgem.
É chamado por alguns de Síndrome da Folha em Branco ou da tela em branco. Isso acontece com pessoas de diversas áreas que dependem da criatividade para trabalhar, e é um tipo de bloqueio criativo. Ele aparece, às vezes, quando precisamos desenhar ou ilustrar algo e atrapalha muito o início de um trabalho.
Isso acontecia muito comigo no início da minha jornada no desenho. Algumas vezes eu queria desenhar algo e não sabia o quê. Outras, eu já tinha feito o esboço (ou lineart) no papel e ficava horas olhando, mas não conseguia iniciar a pintura.
Na época, eu achava que era por ser iniciante, ou que o desenho escolhido estava além das minhas habilidades, e por isso eu me sentia assim. Mas, na verdade, não era nada disso.
Não é que a pessoa não sabe como executar ou não tem capacidade, é simplesmente que a sensação de não saber por onde começar vai paralisando a nossa mente e acabamos travando.
No fim, eu entendi a que:
“Não é que você não sabe o que fazer, você só não sabe por onde começar.”
A Solução: O Planejamento do Desenho
E é aí que entra o planejamento do desenho.
Eu fiz alguns cursos de desenho aqui no Brasil e ninguém nunca tinha falado sobre isso. Só quando fui fazer aulas com artistas de fora do país que eu ouvi falar de planejamento do desenho.
Confesso que fiquei relutante quando ouvi falar sobre planejamento no desenho pela primeira vez. Não entendia o porquê de planejar um desenho. Afinal, é só escolher o que desenhar, sentar e desenhar, certo?
Contudo, quanto mais eu estudava e entendia todos os aspectos envolvidos, mais eu via a importância do planejamento. Só quando comecei a aplicá-lo, entendi o quanto ele ajuda e, de certa forma, acelera o processo do desenho, tornando a execução muito mais fácil. Ele resolve antecipadamente boa parte das dúvidas que possam aparecer.
A ideia aqui é dar uma direção para aqueles momentos em que você se sente perdido em relação ao desenho, sem saber o que desenhar ou por onde começar. O planejamento ajuda nesses casos, e é como um mapa que nos guia do ponto A ao ponto B.
É importante destacar que vou apresentar aqui a maneira como eu planejo o desenho e como funciona para mim, na esperança que isso te dê uma ideia do que pode ser feito e de como você pode fazer para facilitar seus desenhos.
Essa não é a única maneira de se planejar um desenho e alguns artistas utilizem algo bem semelhante ao que proponho aqui, outros tem maneiras diferentes de executar o planejamento. O importante é que você se sinta livre para fazer exatamente como eu, ou adaptar para algo que funcione para você.
O Que é Planejamento do Desenho?
Planejamento é tudo o que você faz antes de começar a pintar ou sombrear seu desenho. Ou seja, o planejamento vem antes da execução propriamente dita.
Ele nos dá uma direção, um plano passo a passo. Quando sabemos o que tem que fazer a cada etapa, o medo desaparece. Isso ocorre porque você passa a focar em um passo por vez, e não no desenho finalizado, o que alivia a pressão e dá uma dimensão real às expectativas.
Ao definir os objetivos do desenho, escolher as referências, selecionar os materiais e criar um esboço detalhado, você está dando forma à sua ideia e eliminando a incerteza
Benefícios de Planejar
Aumento da confiança para desenhar.
Redução da ansiedade ao executar o desenho.
Melhora na qualidade do trabalho final.
Economia de tempo.
Os 5 Passos do Planejamento Estratégico
1. Ideias e o Banco Criativo
Para mim, o planejamento começa com a ideia do desenho.
Eu sempre tive um monte de ideias para desenhar, mas com a mesma velocidade que apareciam, elas sumiam da minha cabeça. E eu ficava frustrada, porque sentava para desenhar e não me vinham ideias, e um dia eu tive uma ideia que achei muito legal e resolvi anotar para não esquecer. E percebi que isso podia ser uma solução.
Desde então, sempre que tenho uma ideia, eu anoto num caderno. Com o tempo eu criei um “banco de ideias” que está sempre a disposição e posso consultar quando preciso.

Você também pode criar um “banco de ideias” que terá à mão sempre que quiser. E para isso basta saber:
O que anotar? A ideia (ex: desenhar um papagaio ou leão), como você imagina esse desenho (ex: combinar 3 pássaros numa composição com folhagens ao fundo), materiais que pretende usar (colorido ou grafite) e quaisquer outros detalhes que julgar necessário. Às vezes faço até uma pequeno esboço bem simples mesmo para ter ideia do que quero representar.
Onde anotar? Use o que tiver à mão, um caderno, um bloco de notas, o celular, o importante é que seja tudo anotado num único lugar e que você tenha fácil acesso e que seja algo que não vai se perder. Eu com sou artista tradicional e trabalho basicamente com papel, prefiro cadernos. Atualmente, estou usando o caderno universitário comum, mas quando ele acabar pretendo usar uma caderneta pequena, assim posso colocar na bolsa e levar para qualquer lugar, pois às vezes as ideias surgem quando estou fora de casa. Não precisa ser um caderno pautado, eu uso um porque é o que já tinha em casa.
Existem algumas listas de ideias para desenhar na internet também e você pode consultar essas listas na internet para ter ideias, em breve vou publicar uma aqui no blog também. Outra boa fonte para buscar ideias para desenhar e o Pinterest.
Fazendo isso, nunca mais fiquei sem inspiração para desenhar. Com a ideia em mãos ou em mente, o que vem a seguir é...
2. Referência
Achar a referência que traduza a minha ideia é uma etapa que consome um tempo razoável.
O que torna uma referência boa e o como procurar uma referência é um tópico para artigo inteiro. E se quiser um artigo sobre como escolher a referência perfeita? Deixe seu comentário!
Mas em linhas gerais ela tem que ter:
Qualidade
Uma boa qualidade em termos de quantidade de pixels, para quando você der zoom na imagem ela ainda continuar com detalhes. O que você vai desenhar precisa estar em foco, por exemplo: fotos de cães muitas vezes o olho está em foco mas o focinho não, ou o focinho está em foco, mas você não consegue ver os detalhes da íris do olho. E esse dois casos comprometem a execução se você estiver fazendo um retrato do animal, por exemplo.
Direitos Autorais
A referência além de ser boa, precisa ser livre de royalties e direitos autoriais. Deve ser algo que possa compartilhar com os outros, e caso seja um tutorial você provavelmente vai precisar compartilhar a foto de referência também. Lembre-se: verifique a licença das fotos antes de baixar, pois muitas são livre de royalties mas têm direitos autorais.
Como mencionei antes o Pinterest, tem muita foto que pode servir como referência e tem até tutoriais de desenho, o porém desse site é que muitas fotos tem direitos autorais e estão sujeitas a royalties. Então, é um bom site para se ter ideias e para usar fotos para praticar, mas você não deve usar as fotos do site como referência para fazer desenhos para vender por exemplo.
Adaptação e Composição
Nem sempre você acha exatamente o que está procurando. Às vezes, é necessário fazer modificações. Aqui é o momento onde eu vou combinar as fotos usando um software de edição de imagens. Vou recortar e remontar até chegar a uma combinação que eu ache boa. Essa parte pode ser a mais demorada de todas, às vezes demorando dias até conseguir o resultado certo.
Outras vezes a combinação de fotos no dispositivo não é possível, então é preciso fazer “na mão” isso também vai demandar tanto tempo quanto o anterior, às vezes até mais. Mas não desista, nada como a satisfação de conseguir traduzir no papel o que está na sua cabeça.
3. Análise da Referência
Com a referência perfeita em mãos, vamos observá-la para aprender tudo a respeito dela: a perspectiva, luz e sombra, e os detalhes que você vai incorporar ou deixar de fora.
Eu considero a análise da luz e sombra de especial importância, pois o entendimento disso fará com que você consiga renderizar melhor o contraste no papel e, consequentemente, deixar seu desenho mais realista.
Se você fez uma composição com várias referências, essa é a hora em que vai checar todas as luzes e sombras e corrigir o que for necessário. Por exemplo, se o sol está à esquerda em uma foto e à direita em outra, você deve escolher uma direção dominante e corrigir o contraste nas demais para criar uma cena coesa e realista.
Nessa fase, caso seja necessário, faço anotações para me guiar na hora do desenho, ou faço um esboço menor do desenho marcando luz e sombra.
4. Materiais e Técnicas
Com o desenho e a análise prontos, a próxima etapa é a escolha dos materiais.
Técnicas: Você já decidiu se o desenho é colorido ou grafite. Agora, precisa saber a quantidade de detalhes e se terá plano de fundo. Isso te dá bagagem para decidir que técnicas usará.
Papel: Com as técnicas resolvidas, você decide o papel. Um papel com gramatura maior, por exemplo, aguentará mais camadas de lápis de cor e funcionará melhor com técnicas mais agressivas como raspagens e solventes, pois não vai esfolar ou deformar. Se for apenas sombrear com grafite por exemplo, talvez não precise de um papel tão encorpado.
Cores e Valores: Se for lápis de cor, pego minha tabela e comparo as cores com a referência, anotando tudo em um papel: que cor vai onde, se vou fazer misturas, e quais cores serão luz e sombra. Se for um desenho a grafite, uso a escala de valores para determinar os tons de cinza.
5. Esboço Detalhado
Aqui eu levo o tempo que precisar, pois um esboço bem feito é a base para qualquer desenho ficar bom.
Novamente, se for fazer um retrato o usar uma única referência esse processo do esboço é bem simples e em pouco tempo você vai ter seu esboço pronto.Mas se estiver fazendo uma composição, pode ser que leve um pouco mais de tempo nessa parte.
Algumas vezes quando você trabalha com várias referências ou vai fazer uma composição só combinar no computador não é o suficiente, e é preciso fazer esboços até conseguir o desenho ideal. E dependendo do desenho, pode demorar semanas, não vou mentir. O importante é se certificar que tudo esteja na perspectiva e composição corretas e com todos os detalhes colocados de forma precisa.
O método que costumo usar é o método do grid, que também tem artigos sobre ele aqui no blog, eu acho mais rápido e menos propenso a erros. mas essa não é a única maneira de fazer esboços e você pode e deve usar o método de esboço que ficar melhor para você. Sinta-se livre para usar o método que melhor se adaptar ao seu estilo, como o método de construção com formas geométricas ou de linhas guias, por exemplo.
Atenção: Se você já escutou "Ah, depois conserta na pintura", ignore! Se a base está errada, todo o resto sai errado.
É como querer construir uma casa sem fundação. Não dá uma hora ou outra as paredes vão rachar ou a casa vai entortar. O mesmo serve para o desenho, se a base está errada, seu desenho vai sair errado e muitas vezes você só vai perceber isso quando o desenho estiver perto de ficar pronto ou depois de pronto!
Quanto melhor e mais preciso for o seu esboço, melhor será o seu desenho final.
Enfim, construído o esboço é só partir para a execução.
Conclusão
E agora você deve estar se perguntando:
Eu planejo todos os meus desenhos?
Se vou fazer um desenho para o blog, para uma aula ou uma encomenda, sim, eu planejo. Mas de vez em quando quero fazer algo para mim, só por diversão, e esses eu não planejo.
O que quero frisar é que isso é uma sugestão que pode ou não ser usada. O ponto aqui é que, se você, como eu, já experimentou o bloqueio, talvez o planejamento possa te ajudar. Em nenhum momento isso é a única forma de fazer um desenho, mas me ajudou muito quando tive meus bloqueios.
O planejamento é uma ferramenta poderosa que te permite trabalhar de forma mais eficiente e confiante.
Passo a Passo do Planejamento:
Tenha Ideias: Anote todas as suas ideias, criando um banco criativo.
Escolha a Referência: Selecione uma imagem (livre de royalties) que inspire e que seja de alta qualidade.
Analise a Referência: Estude a luz, sombra, perspectiva e composição.
Escolha os Materiais: Selecione os materiais adequados para a técnica escolhida (papel, lápis, etc.).
Crie um Esboço Detalhado: Desenhe um esboço preciso, que servirá de fundação para o seu trabalho.
Execute o Desenho: Com o mapa em mãos, é hora de dar vida à sua ideia!
Lembre-se: O planejamento não é uma regra rígida. Adapte o processo às suas necessidades e encontre um método que funcione para você e que te permita expressar sua criatividade de forma livre e espontânea.
Sei que vocês têm várias dúvidas sobre o assunto, então deixe suas perguntas nos comentários e eu vou responder!
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